O Antagonista
O Antagonista
“O homem que tocava saxofone dava fumo aos nossos pulmões. Tocava com a entrada do mar e emergia o som do sol. Na poça d’água envolvia a sua estátua de museus de passadas rápidas e de árvores flutuantes. A cada sentimento seu associava uma imagem espontânea, com vista a culminar no seu arrependimento culinário de juntar peças malíssimas sem nexo. O verde turvo degenerescente da ré é feito na primeira pessoa do plural. Há uma pluralidade na semana que me faz dormitar no colchão do saxofone. O saxofone vertia lágrimas em uníssona quantidade. Ao invés de chover nas cabeças das antas mundiais - a única raça que precisa de chuva - as lágrimas preferem verter no mar como se fosse necessário abortar as veias húmidas no único sítio do mundo com água excessiva.
O mundo divide-se em duas espécies: entre os homens que tocam saxofone e as antas que se enjoam a andar. Aos que tocam saxofone não lhes interessa propriamente a capacidade de produzir um som, mas sim a desculpa da operação em si. Enquanto se ocupam a tocar, a chuva cai fortemente na cabeça daqueles (as tais antas) que se orgulham de não ter feito precisamente nada de crítico. É triste.”
In Des.Aniversário: O Livro por Publicar
Descrição da obra:
Impressão sobre papel fotográfico
329 x 483mm 260gsm